Autodidatismo: como eu aprendi inglês sozinha e fui trabalhar em uma multinacional



“Hi, how are you?
I am fine. And you?
What’s your name?
My name is Diandra. Nice to meet you.
Nice to meet you too”.


Durante muitos anos isso foi um bom resumo do que eu sabia falar em inglês.


Minha mãe não podia bancar um curso, então eu decidi aprender sozinha. Desenvolvi meu próprio método: identifiquei o que eu mais gostava de fazer, que no caso era conhecer gente e culturas, e fui para a internet com a coragem de quem escrevia “Mai name is” quando era criança. Com o meu “método”, conheci gente de todos os cantos. França, Alemanha, Egito, Bélgica, Suíça, Itália, China… Foi uma volta ao mundo.


Eu me apaixonei pela Índia depois de ler Paixão Índia, de Javier Moro, e fui para as comunidades do Orkut sobre o país para aprender mais sobre a cultura. Fiz um amigo muito paciente, o Sandeep, e com ele conversei todos os dias, com texto, vídeo e áudio. Foram anos praticando, mas no início eu usava o tradutor do Altavista (Google não existia, hihihihi) para compreender e me fazer entender.


Devido a esse meu histórico, eu tinha muita insegurança de falar inglês, mesmo tendo praticado e evoluído muito. Sem um diploma, eu achava que eu era uma impostora. Então eu me autossabotava. Até que, no meio do processo seletivo para entrar em uma multinacional onde o inglês era mandatório, a moça do RH me ligou confessando que meu processo estava empacado porque eu tinha dito em uma entrevista que eu tinha aprendido sozinha o idioma. Ela me avisou que me ligaria 3h depois para me entrevistar em inglês e tirar a dúvida.


Lembro de ficar com manchas vermelhas por todo meu colo de tanto nervoso. Lembro de me preparar durante três horas. E lembro de, ao fim da conversa, a moça implorar para voltar ao português, pois ela não aguentava mais falar em inglês. “Tem certeza de que você nunca morou fora e nem fez curso?”, ela perguntou. Eu tinha. “Seu inglês é muito melhor que o meu, que morei na Irlanda por dois anos”, ela falou.


Foi uma libertação. Mas finalmente entendi o quanto eu me sabotava e o quanto a insegurança me prejudicava. Depois que consegui o trabalho, lembro de sentir essa falta de confiança em alguns momentos pontuais, principalmente quando tinha longas interações com muitos nativos ou quando tinha que escrever textos carregados no storytelling no idioma. A verdade é que toda vez que eu meti as caras, eu mandei bem. Foi com o meu autodidatismo que eu levei o Brasil a ser o time que mais contribuía com o Newsroom global da empresa que tem mais de 80 mil empregados ao redor do mundo. Já até ouvi de alguns colegas nativos que escrevo melhor do que eles próprios no idioma deles.


Essa falta de confiança me incomodou muito, mas depois de muito refletir, descobri que só quero me livrar 95% dela, afinal, ela segue me movendo a estudar e aprender mais. Sempre há o que melhorar, sempre existem palavras novas a aprender. E é justamente essa sede louca que a síndrome de impostora dá que faz a gente não se acomodar e ser 1% melhor, todos os dias.